Influência Da Literariedade Formalista Russa Na Avaliação De Obras Contemporâneas

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Olá, pessoal! Hoje vamos mergulhar em um tema super interessante e que tem um impacto gigante na forma como a gente entende e avalia a literatura contemporânea: a influência da literariedade formalista russa. Preparem-se para uma viagem no tempo e no pensamento, explorando como essa corrente teórica revolucionária moldou nossa visão sobre o que faz um texto ser literário de verdade. Vamos lá?

O Que é o Formalismo Russo, Afinal?

Para começar a entender a influência da literariedade formalista russa, precisamos primeiro saber o que diabos é isso, né? O Formalismo Russo foi um movimento crítico-literário que surgiu na Rússia no início do século XX, mais precisamente entre 1910 e 1930. Em um período de grandes transformações sociais e políticas, com a iminência da Revolução Russa, um grupo de intelectuais ousados resolveu questionar as formas tradicionais de se estudar a literatura. Eles estavam cansados daquela abordagem que focava demais na biografia do autor, no contexto histórico ou nas mensagens sociais da obra.

Os formalistas russos, como Viktor Shklovsky, Roman Jakobson e Boris Eikhenbaum, tinham uma ideia bem diferente na cabeça. Eles queriam, acima de tudo, entender a literatura como um sistema autônomo, com suas próprias regras e mecanismos. Para eles, o que realmente importava era a forma como o texto era construído, os recursos que o autor utilizava para produzir um efeito estético no leitor. Era como se eles estivessem desmontando um carro para entender como cada peça funciona e como elas se encaixam para fazer o veículo andar.

O conceito central do Formalismo Russo é justamente o de literariedade, que se refere àquilo que torna um texto literário, que o distingue de outras formas de escrita, como a jornalística ou a científica. Não é o tema, nem a mensagem, nem a intenção do autor que definem a literariedade, mas sim os recursos formais utilizados no texto. E que recursos são esses? Ah, aí é que a coisa fica interessante!

Os formalistas russos identificaram uma série de técnicas e procedimentos que são característicos da linguagem literária, como o estranhamento, a dificuldade, a construção, a sonoridade, o ritmo, a metáfora, a metonímia, e por aí vai. Cada um desses elementos contribui para desautomatizar a nossa percepção da realidade, para nos fazer ver o mundo de uma forma nova e surpreendente. Eles acreditavam que a literatura tinha o poder de renovar a nossa experiência, de nos tirar da rotina e nos fazer enxergar a beleza e a complexidade das coisas.

Estranhamento: A Essência da Arte para os Formalistas

Um dos conceitos mais importantes do Formalismo Russo é o de estranhamento (em russo, ostranenie), que foi brilhantemente formulado por Viktor Shklovsky. Para os formalistas, a arte, em geral, e a literatura, em particular, têm como principal função nos tirar do automático, nos fazer enxergar as coisas de uma maneira diferente, como se fosse a primeira vez. Shklovsky argumentava que a vida cotidiana nos leva a automatizar a nossa percepção, a deixar de prestar atenção aos detalhes, a ver o mundo de uma forma superficial e mecânica.

O estranhamento, então, seria o processo de desautomatização da percepção, de renovação da nossa experiência. A literatura, ao utilizar recursos como a linguagem figurada, a inversão da ordem natural das coisas, a criação de narrativas não lineares e a exploração de diferentes pontos de vista, nos força a prestar atenção na forma como as coisas são ditas, e não apenas no que é dito. É como se o autor nos desse um tapa na cara, nos acordasse para a beleza e a estranheza do mundo.

Shklovsky usava um exemplo bem interessante para ilustrar o conceito de estranhamento: a maneira como contamos histórias. Quando contamos uma história para alguém, geralmente não narramos os eventos em ordem cronológica, mas sim de uma forma que prenda a atenção do ouvinte, que crie suspense, que revele informações aos poucos. Essa inversão da ordem natural dos acontecimentos é uma forma de estranhamento, de tornar a história mais interessante e memorável.

Outro exemplo clássico de estranhamento na literatura é o uso da linguagem poética. A poesia, com suas metáforas, metonímias, aliterações e assonâncias, nos força a prestar atenção na sonoridade das palavras, no ritmo dos versos, na forma como as imagens são construídas. Isso nos impede de ler o poema de forma distraída, como se fosse um texto qualquer. Pelo contrário, somos obrigados a desacelerar, a saborear cada palavra, a decifrar os seus múltiplos sentidos.

Como o Formalismo Russo Influencia a Avaliação de Obras Contemporâneas?

Agora que a gente já entendeu o que é o Formalismo Russo e o conceito de estranhamento, podemos finalmente chegar ao ponto central da nossa conversa: como essa corrente teórica influencia a avaliação de obras contemporâneas? A resposta, meus amigos, é: de muitas formas!

O Formalismo Russo, apesar de ter surgido há mais de um século, continua sendo uma ferramenta poderosa para analisar e interpretar textos literários. Afinal, a preocupação com a forma, com a linguagem, com os recursos expressivos utilizados pelo autor, é algo que permanece fundamental na literatura contemporânea. Os escritores de hoje, assim como os de ontem, buscam criar obras que nos emocionem, que nos façam pensar, que nos transportem para outros mundos. E para isso, eles precisam dominar a arte da linguagem, a técnica da narrativa, a magia das palavras.

A influência do Formalismo Russo na avaliação de obras contemporâneas pode ser percebida em diversos aspectos. Por exemplo, na valorização da experimentação formal, da busca por novas formas de narrar, de poetizar, de representar a realidade. Muitos autores contemporâneos, como José Saramago, Mia Couto e Clarice Lispector, para citar apenas alguns, são mestres em subverter as convenções literárias, em criar narrativas não lineares, em explorar diferentes pontos de vista, em inventar novas palavras e expressões.

Outro aspecto importante é a ênfase na linguagem como matéria-prima da literatura. Os formalistas russos nos ensinaram a prestar atenção na sonoridade das palavras, no ritmo das frases, na musicalidade do texto. E essa sensibilidade para a linguagem é essencial para apreciar a obra de muitos escritores contemporâneos, que exploram as potencialidades da língua de forma criativa e inovadora. Pensem, por exemplo, na poesia de Manoel de Barros, com suas palavras inventadas, suas imagens surpreendentes, sua sintaxe peculiar. Ou na prosa de Guimarães Rosa, com seu regionalismo, seus neologismos, sua linguagem cheia de musicalidade e ritmo.

Além disso, o Formalismo Russo nos ajuda a entender a importância do leitor na construção do sentido da obra. Os formalistas acreditavam que o texto literário não tem um sentido único e fixo, mas que ele se constrói na interação entre o autor e o leitor. Cada leitor, com sua bagagem cultural, suas experiências de vida, suas expectativas e seus preconceitos, vai interpretar o texto de uma forma diferente. E essa pluralidade de interpretações é o que enriquece a literatura, o que a torna um espaço de diálogo e de troca de ideias.

Exemplos Práticos: Aplicando o Formalismo Russo em Obras Contemporâneas

Para deixar tudo mais claro, que tal vermos alguns exemplos práticos de como o Formalismo Russo pode ser aplicado na avaliação de obras contemporâneas? Vamos analisar alguns casos específicos e mostrar como os conceitos formalistas podem nos ajudar a entender melhor esses textos.

1. Cem Anos de Solidão, de Gabriel García Márquez

Essa obra-prima do realismo mágico latino-americano é um prato cheio para os formalistas. Márquez utiliza uma série de recursos formais para criar um mundo fantástico e, ao mesmo tempo, profundamente humano. A narrativa não linear, a mistura de realidade e fantasia, a repetição de personagens e situações, o uso de hipérboles e metáforas, tudo isso contribui para o estranhamento do leitor, para a desautomatização da percepção.

Márquez também explora a linguagem de forma magistral, criando frases longas e sinuosas, cheias de imagens e sensações. A sonoridade das palavras, o ritmo da prosa, a musicalidade do texto, tudo isso contribui para a beleza e o impacto da obra. Ao analisar Cem Anos de Solidão sob a perspectiva do Formalismo Russo, podemos perceber como a forma e o conteúdo se complementam, como os recursos expressivos utilizados pelo autor são essenciais para a construção do sentido da obra.

2. Ensaio Sobre a Cegueira, de José Saramago

Outro exemplo interessante é o romance de Saramago, que narra a história de uma epidemia de cegueira branca que se espalha por uma cidade. Saramago utiliza uma série de recursos formais para criar um efeito de estranhamento no leitor, para nos fazer sentir o desconforto e a desorientação dos personagens. A falta de nomes próprios, a ausência de pontos finais, a narração em terceira pessoa que se mistura com o discurso indireto livre, tudo isso contribui para a criação de um ambiente opressivo e claustrofóbico.

Saramago também explora a linguagem de forma peculiar, criando frases longas e complexas, com muitas orações subordinadas. A sintaxe labiríntica, a pontuação irregular, o uso de palavras incomuns, tudo isso desafia o leitor, o obriga a prestar atenção na forma como as coisas são ditas. Ao analisar Ensaio Sobre a Cegueira sob a ótica do Formalismo Russo, podemos perceber como os recursos formais utilizados por Saramago são fundamentais para a construção do sentido da obra, para a transmissão da sua mensagem.

3. A Metamorfose, de Franz Kafka

Não podemos deixar de mencionar o clássico de Kafka, que narra a história de Gregor Samsa, um caixeiro-viajante que um dia acorda transformado em um inseto. Kafka utiliza o estranhamento como um recurso central na sua obra, criando uma situação absurda e surreal que nos faz refletir sobre a condição humana. A transformação de Gregor em inseto, a reação da sua família, a sua dificuldade de comunicação, tudo isso nos causa um choque, nos tira da nossa zona de conforto.

Kafka também explora a linguagem de forma peculiar, criando frases simples e diretas, mas carregadas de significado. A objetividade da narrativa, a precisão das descrições, a frieza do tom, tudo isso contribui para o impacto da obra. Ao analisar A Metamorfose sob a perspectiva do Formalismo Russo, podemos perceber como a forma e o conteúdo se complementam, como os recursos expressivos utilizados por Kafka são essenciais para a construção do sentido da obra, para a transmissão da sua mensagem sobre a alienação, a solidão e a incomunicabilidade.

Conclusão: A Herança Formalista e o Futuro da Crítica Literária

Chegamos ao fim da nossa jornada pelo mundo da literariedade formalista russa, e espero que vocês tenham gostado! Vimos como essa corrente teórica revolucionária influenciou e continua influenciando a forma como avaliamos as obras literárias contemporâneas. Os formalistas russos nos ensinaram a prestar atenção na forma, na linguagem, nos recursos expressivos utilizados pelos autores, e essa lição permanece valiosa até hoje.

É claro que o Formalismo Russo não é a única forma de analisar e interpretar a literatura. Existem outras abordagens teóricas, como a psicanálise, o marxismo, o feminismo, o pós-estruturalismo, que também podem nos oferecer insights importantes sobre as obras literárias. Mas o Formalismo Russo tem o mérito de ter nos alertado para a importância da forma, da linguagem, da literariedade. E essa é uma contribuição que não podemos ignorar.

Então, da próxima vez que vocês forem ler um livro, um poema, um conto, lembrem-se dos formalistas russos. Prestem atenção na forma como o texto é construído, nos recursos expressivos utilizados pelo autor, na maneira como a linguagem é explorada. Vocês vão se surpreender com o que podem descobrir!

E aí, o que acharam da nossa conversa de hoje? Deixem seus comentários, suas dúvidas, suas sugestões. Adoro trocar ideias com vocês! Até a próxima, pessoal!