Abordagem Bilíngue Na Educação De Surdos A Importância Da Língua De Sinais
Introdução
Na educação de surdos, diversas abordagens pedagógicas têm sido exploradas ao longo da história, cada uma com suas próprias filosofias e metodologias. Entre as principais, destacam-se a abordagem oralista, a abordagem gestual e a abordagem bilíngue. Para compreendermos qual dessas abordagens considera a língua de sinais como fundamental para o aprendizado e a comunicação, é essencial que mergulhemos em cada uma delas, analisando seus princípios e práticas. Este artigo tem como objetivo explorar em profundidade a abordagem bilíngue, destacando sua importância e como ela se diferencia das demais.
As Abordagens Pedagógicas na Educação de Surdos
Abordagem Oralista: A Busca pela Oralização
A abordagem oralista, predominante em muitos momentos da história da educação de surdos, foca-se no desenvolvimento da fala e da leitura labial como principais formas de comunicação. A língua de sinais é, em geral, desencorajada ou mesmo proibida, sob a crença de que o domínio da língua oral é essencial para a integração do surdo na sociedade ouvinte. Os métodos utilizados na abordagem oralista incluem treinamento auditivo, terapia da fala e leitura labial. No entanto, essa abordagem tem sido amplamente criticada por sua dificuldade em alcançar resultados eficazes para todos os alunos surdos, além de ignorar a riqueza e a importância da língua de sinais como língua natural da comunidade surda.
Abordagem Gestual: A Língua de Sinais como Meio Principal
A abordagem gestual, em contrapartida, valoriza a língua de sinais como meio principal de comunicação e instrução. Nessa abordagem, a língua de sinais é vista como a língua natural dos surdos, capaz de proporcionar um desenvolvimento linguístico e cognitivo completo. A comunicação é feita principalmente através de sinais, e a cultura surda é valorizada e integrada ao processo educativo. Embora a abordagem gestual reconheça a importância da língua de sinais, ela pode não dar a devida atenção ao desenvolvimento da língua oral, o que pode limitar as oportunidades de comunicação dos surdos em contextos mais amplos.
Abordagem Bilíngue: A Integração de Línguas e Culturas
A abordagem bilíngue surge como uma alternativa que busca integrar o melhor de ambas as abordagens anteriores. Ela reconhece a língua de sinais como a primeira língua (L1) do surdo, fundamental para o seu desenvolvimento cognitivo, social e emocional, e a língua oral (no caso do Brasil, o português) como segunda língua (L2). O objetivo principal é que o aluno surdo se torne bilíngue, dominando tanto a língua de sinais quanto a língua oral, e bicultural, compreendendo e participando tanto da cultura surda quanto da cultura ouvinte.
A Abordagem Bilíngue em Detalhes
A abordagem bilíngue na educação de surdos é muito mais do que apenas o uso de duas línguas. Ela representa uma filosofia educacional que valoriza a diversidade linguística e cultural, reconhecendo a língua de sinais como uma língua legítima e essencial para o desenvolvimento pleno do indivíduo surdo. Vamos explorar os pilares que sustentam essa abordagem.
A Língua de Sinais como Primeira Língua (L1)
Na abordagem bilíngue, a língua de sinais é considerada a L1 do aluno surdo. Isso significa que ela é a língua primária de instrução e comunicação na escola. Acredita-se que a aquisição da língua de sinais nos primeiros anos de vida é crucial para o desenvolvimento cognitivo, social e emocional da criança surda. Através da língua de sinais, a criança tem acesso a conceitos abstratos, pode expressar seus pensamentos e sentimentos, e interagir com seus pares e adultos surdos. Além disso, a língua de sinais serve como base para a aprendizagem de outras línguas, incluindo a língua oral.
A Língua Oral como Segunda Língua (L2)
Embora a língua de sinais seja a língua principal, a língua oral (L2) também desempenha um papel importante na abordagem bilíngue. O objetivo é que o aluno surdo desenvolva habilidades de leitura e escrita na língua oral, para que possa ter acesso a informações e oportunidades na sociedade ouvinte. No entanto, o ensino da língua oral é feito de forma adaptada, levando em consideração as necessidades e particularidades dos alunos surdos. Métodos visuais, como a leitura labial e o uso de recursos gráficos, são frequentemente utilizados.
Bilinguismo e Biculturalismo
A abordagem bilíngue não se limita ao domínio de duas línguas; ela também promove o biculturalismo. Isso significa que os alunos surdos são incentivados a conhecer e valorizar tanto a cultura surda quanto a cultura ouvinte. A cultura surda, com sua própria língua, história, valores e tradições, é rica e vibrante, e é fundamental que os alunos surdos se identifiquem com ela. Ao mesmo tempo, é importante que eles compreendam e se integrem à cultura ouvinte, para que possam participar plenamente da sociedade.
Metodologias e Práticas na Abordagem Bilíngue
As metodologias utilizadas na abordagem bilíngue são diversificadas e adaptadas às necessidades individuais de cada aluno. Algumas das práticas comuns incluem:
- Uso da Língua de Sinais em Sala de Aula: A língua de sinais é utilizada como língua de instrução em todas as disciplinas, garantindo que os alunos surdos tenham acesso ao conteúdo curricular.
- Ensino da Língua Oral como L2: O ensino da língua oral é feito de forma sistemática e adaptada, com foco no desenvolvimento da leitura e da escrita.
- Uso de Recursos Visuais: Recursos visuais, como vídeos, imagens e materiais gráficos, são amplamente utilizados para facilitar a aprendizagem.
- Presença de Profissionais Bilíngues: A presença de professores e intérpretes bilíngues (Língua de Sinais/Língua Oral) é fundamental para garantir a comunicação e o acesso à informação.
- Valorização da Cultura Surda: A cultura surda é integrada ao currículo escolar, com atividades que promovem o conhecimento da história, da língua e das tradições da comunidade surda.
A Importância da Abordagem Bilíngue
A abordagem bilíngue tem se mostrado a mais eficaz para a educação de surdos, pois ela reconhece e valoriza a língua de sinais como fundamental para o desenvolvimento pleno do indivíduo surdo. Ao permitir que os alunos surdos adquiram a língua de sinais como sua primeira língua, a abordagem bilíngue proporciona uma base sólida para a aprendizagem e o desenvolvimento cognitivo. Além disso, ela promove a identidade cultural surda e o biculturalismo, preparando os alunos para participarem ativamente tanto da comunidade surda quanto da sociedade ouvinte. Ao contrário da abordagem oralista, que muitas vezes resulta em frustração e dificuldades de comunicação para os alunos surdos, e da abordagem gestual, que pode limitar o acesso à língua oral, a abordagem bilíngue oferece um caminho equilibrado e inclusivo para a educação de surdos.
Desafios e Perspectivas Futuras
Apesar de seus benefícios comprovados, a implementação da abordagem bilíngue na educação de surdos ainda enfrenta desafios. A falta de profissionais bilíngues qualificados, a resistência de algumas famílias e a falta de recursos adequados são alguns dos obstáculos a serem superados. No entanto, as perspectivas futuras são promissoras. Com a crescente conscientização sobre a importância da língua de sinais e da cultura surda, e com o aumento do número de programas de formação de profissionais bilíngues, a abordagem bilíngue tem o potencial de transformar a educação de surdos e garantir que todos os alunos surdos tenham acesso a uma educação de qualidade.
Conclusão
Em suma, a abordagem bilíngue é a que considera a língua de sinais fundamental para o aprendizado e a comunicação na educação de surdos. Ao reconhecer a língua de sinais como a primeira língua (L1) do surdo e a língua oral como segunda língua (L2), essa abordagem promove o desenvolvimento cognitivo, social, emocional e linguístico dos alunos surdos. Além disso, ela valoriza a cultura surda e o biculturalismo, preparando os alunos para uma vida plena e inclusiva. Embora desafios ainda existam, a abordagem bilíngue representa o caminho mais promissor para garantir uma educação de qualidade para todos os surdos.